Quem convive de perto com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva resume em uma frase a ideia de um projeto eleitoral em 2018: “Se me encherem o saco, eu volto”. A declaração, feita por Lula meses atrás, levou muito petista ao delírio. Na época, o que não faltava no partido era gente defendendo que ele disputasse a Presidência da República no lugar de Dilma Rousseff. Os meses se passaram, o ex-presidente empenhou-se pessoalmente em abafar o “Volta, Lula”, deu sustentação à reeleição da sucessora e mandou mais um recado à militância petista: pediu a interlocutores que repetissem para quem quisesse ouvir que é pré-candidato à Presidência na próxima eleição.
A mensagem foi recebida com um misto de entusiasmo e desconfiança no PT. Em tese, ninguém duvida que Lula gostaria de colocar novamente os pés no Palácio do Planalto. “Ele se morde toda vez que ela faz alguma coisa da qual ele discorda”, brinca um ministro que já circulou muito ao lado do ex-presidente, ao falar sobre a “dificuldade” que ele tem de lidar com a “autonomia” cada vez maior demonstrada por Dilma. Mas quem é próximo de Lula sabe uma candidatura não está tão consolidada assim.
Em 2018, o ex-presidente contará 73 anos e terá passado oito anos longe da cadeira de presidente. Na prática, sua entrada na disputa só deve de fato se concretizar se o cenário político e a realidade eleitoral do momento forem favoráveis. O próprio Lula repete com frequência aos amigos que não tem a menor intenção de se transformar numa espécie de “Michael Schumacher”. Ou seja, não quer saber de voltar se não tiver a certeza de que será “pole position”.
A ideia de deixar correr solta a notícia da candidatura teve um objetivo claro nos últimos meses: motivar a militância petista a trabalhar pela reeleição de Dilma. A tese difundida no partido era a de que a recondução da presidente seria o caminho mais curto para ter Lula de volta no Planalto num futuro não tão distante. Essa premissa foi repetida à exaustão justamente quando a ex-senadora Marina Silva (PSB) disparava nas pesquisas de opinião, na esteira da comoção provocada pelo acidente aéreo que matou o ex-governador de Pernambuco e então candidato do PSB ao Planalto, Eduardo Campos.
Agora com Dilma reeleita, o motivo para colocar Lula como candidato é outro, de acordo com líderes da legenda: conter a disputa interna entre possíveis interessados na vaga e criar as condições para que a indicação de um sucessor se dê no momento certo. “Por tudo o que ele já fez, é uma segurança ter no Lula esse fator de continuidade. Mas é também um elemento de estabilidade, garantindo que não haja uma disputa dentro do próprio governo entre os demais cotados. E aí, no momento devido, o PT vai se sentar e discutir a sucessão da presidente Dilma Rousseff”, diz o presidente nacional do partido, Rui Falcão, que coordenou a campanha presidencial petista.
IG
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