O programa Ciência sem Fronteiras
foi alvo de críticas na última terça-feira na reunião anual da
Sociedade Brasileira para o Desenvolvimento da Ciência (SBPC). Durante a
mesa-redonda "Fronteira da Ciência sem Fronteiras" foi questionada, por
exemplo, a capacidade do País de absorver esses pesquisadores do
exterior quando eles voltarem para o Brasil.
"Se temos problemas com a absorção de recém-doutores, que têm
dificuldade de se inserir no mercado, como vamos receber esses alunos?",
observou a doutoranda Luana Bonone, presidente da Associação Nacional
dos Pós-Graduandos (ANPG).
A situação foi retrucada por Helena Nader, presidente da SBPC.
"Estamos mandando os melhores para fora. Mas queremos esses meninos de
volta, aqui, para que esse conhecimento reverta para o Brasil", disse.
O fato de o programa não incluir os alunos das ciências humanas
também foi criticado por vários dos presentes. O presidente da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes),
Jorge Almeida Guimarães, disse que, com o início do programa, sobraram
mais vagas nos programas de bolsa tradicionais da Capes e do CNPq, que
estariam disponíveis para os estudantes dessas áreas. Para os alunos de
graduação das ciências humanas, porém, não existe nenhuma opção
parecida.
Até 2014, o programa pretende enviar mais de 100 mil estudantes de
graduação e de pós-graduação para estudar fora, prioritariamente em
exatas e em saúde.
"Uma próxima versão do programa deveria contemplar todas as áreas. Se a
demanda de pós doutorado no exterior está baixa, por que não permitir
que alunos de humanas participem?"
Nesta quarta-feira, o presidente da Capes (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) disse na SBPC que a
demanda pelas vagas de pós-doutorado no exterior estavam bem abaixo do
esperado.
De acordo com Christian Muller, diretor do DAAD no Rio de Janeiro,
escritório alemão responsável pelo intercâmbio de estudantes entre
Brasil e Alemanha, a oferta de cursos com recorte específico nas
ciências exatas e da saúde deve ser mantido até pelo menos 2014.
"Depois disso, pode ser que incluam humanas."
Muller disse ainda estar impressionado com a atenção que a presidente Dilma Rousseff tem dado ao Ciência Sem Fronteiras.
"Sei que ela já se reuniu pelo menos seis vezes com Capes e com CNPq
para saber pessoalmente sobre o programa. Eu nunca me reuni com Angela
Merkel [chanceler alemã]", brincou.
Os especialistas europeus reforçaram ainda a necessidade de estimular
o ensino de línguas, especialmente do inglês, nas universidades
brasileiras.
"A formação em línguas estrangeiras é o maior obstáculo do Brasil. O
Ciência Sem Fronteiras deixou isso bem claro", analisou Muller.
Guimarães também disse que o desempenho dos bolsistas tem surpreendido
as universidades estrangeiras. "Fazem fila para fazerem acordos. Todos
querem nossos estudantes."
Fonte: Folha de São Paulo e IG
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