Governo no embalo das redes sociais
No dia em que anunciou que seus filhos não mandam no governo, sem dizer quem de fato manda, o presidente Jair Bolsonaro rendeu-se à pressão dos seus seguidores nas redes sociais e ordenou ao ministro Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública, que retirasse o convite que fizera à cientista política Ilona Szabó para o Conselho Nacional de Política e Penitenciária. Moro obedeceu sem piar.
A importância do Conselho é quase nenhuma. Criado em 1980, ele é um órgão de consulta do governo para formulação de projetos na área de segurança. Realiza inspeções periódicas nos presídios e cadeias do país. A cada 4 anos, elabora um plano nacional para a prevenção da criminalidade. E sugere as regras para o indulto que o presidente da República concede a presos condenados a cada fim de ano.
São 26 conselheiros – 13 titulares e 13 suplentes. Szabó seria suplente não remunerada. Ela é a diretora executiva do Instituto Igarapé que se dedica a estudar e a chamar a atenção para os desafios da violência e da insegurança no Brasil e na América Latina. Pela relevância do seu trabalho, o instituto abiscoitou quase uma dezena de prêmios internacionais em menos de 8 anos.
Foram consultores do instituto os atuais ministros da Secretaria Geral da Presidência e da Secretaria de Governo, os generais Floriano Peixoto Vieira Neto e Carlos Alberto dos Santos Cruz. O Igarapé foi parceiro do Exército em missões de paz no exterior, inclusive com treinamento de tropas. Moro conheceu Szabó em janeiro passado no Fórum Mundial de Davos, na Suíça. Gostou de suas ideias.
No último dia 22, convidou-a para fazer parte do Conselho. Informou-a que na primeira oportunidade que tivesse ela se tornaria titular de uma das 13 vagas. Anteontem, em Brasília, os dois se reuniram e tiveram “uma ótima conversa”, segundo Szabó. O acerto entre eles começou a desandar ontem, quando nas redes sociais se formou uma onda bolsonarista contra a nomeação da cientista.
Szabó foi acusada de se opor à liberação da venda de armas, à posse de mais de uma arma por pessoa, e de um grau maior liberdade para que policiais, sob a alegação de legítima defesa, possam atirar em bandidos ou apenas suspeitos. Moro também era contra tudo isso, mas acabou cedendo à vontade de Bolsonaro e dos seus devotos. Um telefonema de Bolsonaro para Moro selou a sorte de Szabó.
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