Diante disto, o Padre Claudênis enviou uma carta
para a diocese de Mossoró, mostrando as suas reivindicações acerca do afastamento,
veja a carta:
"O
posicionamento da igreja ante os últimos acontecimentos, durante a campanha
eleitoral, deixou claro que a diocese ignora quaisquer justificativas vindas do
sacerdote e da metade da comunidade cristã que o apoiou, usando de argumentos
durante o sermão como:” nenhum sacerdote pode se posicionar partidariamente” e
sem permitir nenhum direito à defesa, lançou seu veredicto “o Padre vai estar
de férias, cuidando da avó doente e aproveita para refletir sobre a sua postura
“.
·
O padre desde então ficou aguardando contato
da diocese. Foi para o Rio de Janeiro passear, presente dos filhos ausentes do
município, porque sua avó não estava doente e também para não ter que ouvir
críticas e manifestações daqueles que, vencedores nas eleições, se achavam
também vencedores no conflito igreja- poder, com o aval dado pela diocese,
quando se fez conivente com o poder local, contribuindo dessa forma, mesmo que
indiretamente, para que os desmandos de corrupção que há muito o tribunal de
contas divulga, pudessem se instalar por mais quatro anos no município.
·
Nesse espaço de tempo entre o dia em que o
padre foi mantido longe da paróquia por decisão da diocese até hoje, em nenhum
momento a igreja entrou em contato com ele, procurou saber se a “avó doente”
estava sendo bem assistida, se tinha dinheiro para fazer a feira, pagar as
contas ou mesmo sobreviver. Nenhum salário foi pago desde então, nenhuma
definição foi realizada, nenhum recado foi dado, nenhum contato foi mantido.
Somente as “férias” foram prolongadas junto ao silêncio.
·
Perdido, ignorado, estigmatizado como
politiqueiro, irresponsável e até ladrão, já que o poder passou a cobrá-lo,
através da rádio comunitária, ligada à paróquia, a prestação de contas das
festas e dízimos, o padre retornou do Rio de Janeiro para Marcelino Vieira,
terra onde ele se achava ainda padre e, portanto, teria o apoio de grande parte
da comunidade que o acolheu e o alimenta até hoje. Até então vive assim, sem
salário, sobrevivendo de favores daqueles que o apoiaram nesses momentos
difíceis.
·
Se o padre obedecesse à diocese, estaria desde
outubro em Portalegre vivendo de quê? Quem estaria oferecendo-lhe arrego? Como
estaria se mantendo?
· Hoje
muitos comentários se espalham. Um deles é que a Igreja está indignada por ter
sido desobedecida.Que jamais o padre deveria ter se instalado em Marcelino
Vieira.
·
O que a igreja quer realmente? Vou responder:
um pastor subserviente, que comungue com os seus interesses e que não saiba
construir e muito menos emitir suas próprias opiniões. É dever do Estado
manter-se laico, a igreja pode intervir no estado quanto este exclui e
marginaliza, quando não assume o compromisso de cuidar do povo que o elegeu. Em
Marcelino Vieira todo mundo sabe que há uma inversão de papéis.O poder político
é que diz como a igreja deve agir.
·
Um outro padre já assume a paróquia. O padre
posto de “férias”, até hoje ficou sem saber como foi, porque foi e até onde
vai. Só sabe que agiu conforme sua consciência, espelhando-se no aprendizado da
sua vida sacerdotal, cujo objetivo maior era a luta pela justiça social, pela
paz e por dignidade para todos, principalmente para aqueles que nada têm, a não
ser a fé.
Conclusão: diante desses
acontecimentos acima mencionados, não sei mais se vale a pena continuar
sacerdote. Só se entrega de corpo e alma a uma causa se houver a plena certeza
de que, a instituição a quem serve caminha junto com o mesmo propósito:
promover mudanças que venham melhorar a vida da comunidade, aqui na terra e
além dela. Pronto."
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