Carta ao Sr. Político

 Marcelino Vieira/RN, 24/09/2011


Caro político,
Faz muito tampo não é mesmo?  Ao todo são pouco menos de 04 anos desde a última vez que você deu notícia. Lembro a última vez em que você visitou a minha rua. Usava camisa simples. Intitulava-se, homem do povo... Sapato sujo, indicando longa caminhada.  Carregava muitos cadernos e neles nomes escritos. Os nomes! Nomes são importantes. Sem eles não haveria identificação, não haveria responsável, não haveria distinção, não haveria CPF, não haveria título, não haveria eleição, não haveria política. Se formos pensar mais profundamente, sem nomes não haveria ordem e, consequentemente, o mundo seria um caos. Mas, vamos continuar lembrando a sua última aparição... Até aquele dia não tinha visto um ser humano mais simpático. Sorriso escancarado. As mãos não paravam. Acenava pra um. Acenava pra outro. Entrava nas casas com uma simpatia de causar inveja em qualquer apresentador de TV. Ao sair, além da tapinha nas costas, deixava muito papel. Na maioria das vezes papel valioso. Muito valioso... Você saía espalhando alegria, como um palhaço convidando a população para o circo.
Depois fiquei sabendo que você foi eleito. Não fiquei espantado porque tinha visto os seus cadernos e sabia que você tinha feito muito esforço para ser eleito. Afinal, distribuir papel de valor entre o povão da minha cidade é muito esforço para um candidato.
Passado isso, depois da posse, você tomou o chá de sumiço. Tomou, também, algumas atitudes. Guardou a personagem no guarda-roupa e assumiu seus verdadeiros interesses. Tirou aquela camiseta manchada. Jogou fora aquele sapato velho. Guardou os cadernos dentro de uma gaveta.
Algumas vezes o senhor passa na minha rua. Eu sei que é você por causa do carro. Na minha cidade tem poucos desses. Sim... Já estava esquecendo, na minha pacata cidade, os políticos são conhecidos pelos carros. Mas, vamos voltar ao assunto. Eu disse que algumas vezes o senhor passa na minha rua. Na última vez, se não fosse a lombada não teríamos conhecido que naquele momento passava um representante do povo. E não é apenas isso. Depois de eleito você ficou inacessível, arrogante. Sua simplicidade tomou red Bull.
Hoje, seu nome está nos carros novos, nas casas luxuosas, nas fazendas. E o nome do povo onde está? No caderno. Apenas no caderno. E na frente do nome está escrito: vota.
Enfim, político, depois de quase 04 anos, ouvi dizer que você vai fazer uma visita ao meu município. Com certeza você passará na minha rua e na minha casa. Vem com camisa simples, sapato sujo, caderno na mão, os bolsos cheios de papel e cercado de babão.
Em breve, voltarei a escreve


 O vieirense
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