'A verdade foi dita pelos quatro cantos da cidade [...] e essa voz tem peso, ameaça o poder, destrona os “donos da cidade”', o Círculo de Fogo entrevista Padre Claudênis!

Arquivo pessoal

O entrevistado do blog hoje é o Padre Claudênis, que causou polêmica durante as eleições municipais desse ano em Marcelino Vieira. Tanto é que foi afastado por um tempo da paróquia de Santo Antônio em Marcelino Vieira. 

A entrevista foi feita diretamente do Rio de Janeiro, algumas perguntas veio lá de Roma onde Rayr Filho tá morando atualmente, outras aqui de Marcelino Vieira mesmo, foi uma entrevista bem bacana cheia de tecnologia de comunicação e informação, apesar de não ter sido cara a cara, no estilo CDF devido a distância dos entrevistadores e entrevistado, mas deu tudo certo! Espero que gostem.

Círculo de Fogo: Pe. Claudênis, o que causou o seu posicionamento e o seu envolvimento na política vieirense?

Pe. Claudênis: Para o gosto de alguns católicos e anticatólicos, a Igreja ficou demasiado política. E ficou mesmo! Se é errado ou certo, já são outros quinhentos, porque, não opinar, não se envolver também pode ser uma atitude política… Se ontem a Igreja agradava mais a estes “fiéis” porque falava a favor dos pobres, mas não denunciava as injustiças dos mais ricos, hoje desagrada porque, ao falar em favor dos pobres, não hesita em por a culpa num sistema que é injusto e que favorece os mais ricos. Aprendi no sacerdócio que ser padre é aproximar o povo de Deus, aconselhando-o, orientando-o para o cumprimento fiel dos ensinamentos e práticas de Jesus:”Amar ao próximo como a si mesmo”O que este ensinamento nos diz? Ele nos convida a sentir a dor do outro, a estar junto,a lutar contra as injustiças sociais,contra essa submissão secular daqueles que,por situações adversas tornam-se subservientes aos “grandes”, obrigando-se a assimilarem a ideologia do poder que exclui qualquer possibilidade de manter-se digno, de ter vez e de participar da vida comunitária ativamente, se não estiver a eles aliada.Qualquer gestão pública deve ter como propósito servir à toda população e não ser servida. E essa postura e prática dos gestores me deixa indignado:”quantos me elegeram?É somente para eles que governo?Vamos fazer uma lista dos traidores para demiti-los, vamos apontar quem terá o privilégio de ser atendido e assistido”.Não consigo ficar calado diante dessa forma de administrar.E ai pergunto, mesmo sabendo que todos sabem da resposta: O que o povo de Marcelino Vieira quer?Quer ver construído o complexo turístico de Santo Antônio?Os recursos foram repassados?E aí, a obra foi construída?A população precisa de médicos na cidade.Existem recursos para serem investidos na saúde?E aí, os médicos estão atendendo a contento?A população precisa de transporte escolar, a zona rural é imensa e nossos meninos precisam e devem estudar.O governo federal possibilita a aquisição de veículos para o deslocamento desses meninos?Por que pais de famílias pobres pagam moto táxi para que os filhos cheguem até a escola todos os dias?Todo mundo sabe das respostas, mas alguns preferem se calar.Esses são alguns exemplos de descaso administrativo que me levam a assumir a postura que ora mantenho. Essa é a minha posição.Esse é o meu envolvimento político.

Círculo de fogo: Nos últimos dias de política em Marcelino Vieira, os nomes dos prefeitos foram deixados de lado, e o alvo mudou. As pessoas que apoiavam o gupo situacionistas começaram a soltar duras críticas ao Pe. Da paróquia de Marcelino Vieira. Pe Claudenes, explica um pouco, como o foco mudou tanto e o porque de seu nome ter sido tão falado e criticado nesses últimos dias?

Pe. Claudênis: O foco mudou porque a verdade foi dita pelos quatro cantos da cidade e esse fato e essa voz tem peso, ameaça o poder, destrona os “donos da cidade”, abala os alicerces daqueles que acreditavam nas suas verdades tão pouco contestadas até então.Muito da minha gente ainda repete:”Manda quem pode,obedece quem tem juízo”Mas boa parte dos vieirenses não aceita mais repetição, não se submete a consolidar esse sofrimento que se arrasta há anos pela cidade, não quer mais trocar o voto por um emprego ou por uma diária ou por um favor.Não foi somente a minha voz que foi ouvida não.Foi praticamente metade da população que falou juntamente comigo.Esse grito soou como uma afronta às ideologias e práticas dos grupos dominantes.Eu apenas obedeço aos meus princípios cristãos e por isso sou tido como “sem juízo” porque para eles, padre só serve mesmo é pra rezar, ensinar ao povo os caminhos do céu.Mas asseguro-lhes que só se chega aos céus se começarmos a construir bons caminhos aqui na terra.É para isso que estamos aqui. 
 
Círculo de fogo: As pessoas chegaram a falar nas redes sociais que o senhor estava comprando votos para o lado da oposição, isso é verdade?

Pe. Claudênis:  Não é verdade. Jamais comercializei meus princípios e minha fé. Não o faria também contra os princípios e fé do povo que cuidei e que ainda cuido.

Círculo de Fogo: Disseram que o Sr. Foi preso, foi ferido, até que ponto isso é verdade?

Pe. Claudênis: Isso não é verdade.Sofri torturas e perseguições psicológicas, fui desrespeitado enquanto pastor, enfrentei constrangimentos e difamações.Fui ferido na minha dignidade de sacerdote e de homem, mas jamais preso e açoitado fisicamente.

Círculo de Fogo: Na sua Opinião, até quando a igreja vai continuar se contradizendo diante da realidade que ela mesma participa? Diante da corrupção, das injustiças, exploração, o que a igreja o clero diz? e quais são os limites ?


Pe. Claudênis: Não cabe a mim definir o tempo necessário para que a igreja se envolva mais profundamente com as causas sociais. Sou menos que a milésima parte de sua hierarquia.Acredito que ela muito já avançou nesse sentido se analisarmos sua postura  ao longo da história.Porém ela ainda carrega pesadas doutrinas  que dificultam a evangelização que liberta.Uma doutrina embasada na dura vida do povo, num Cristo que opta pelos pobres,numa evangelização efetiva onde a teologia não teria razões de existir sem a prática.É muito difícil retirar todas as camadas de tinta com que pincelaram seus sentidos durante séculos.Mas a luta continua...porque existem muitos assim como eu.

Círculo de Fogo: Outro assunto bastante falado na cidadezinha é de que estão tentando tirar o senhor da paróquia de Marcelino Vieira, existe realmente esta possibilidade e até que ponto a política pode inteferir na religião?

Pe. Claudênis: Possibilidade existe sim, mas por enquanto “estou de férias”. Cabe à Diocese decidir o meu destino.Não há como isolar a religião da política.  A Igreja faz política para diminuir esse abismo que existe entre o poder e o povo, entre os que acumulam riquezas e os que vivem passando fome, entre os exploradores e os explorados, ensinando o respeito às diversidades e promovendo inclusão social e justiça para todos. Vai desagradar e está desagradando os que possuem mais. E talvez não esteja agradando nem aos pobres, mas está buscando a justiça. O tempo dirá se errou ou se acertou, mas concordar com isso é impossível. E continua sendo. A caridade sem a justiça não é caridade…

Círculo de Fogo: durante este processo eleitoral e o seu posicionamento partidário, o que o Bispo lhe orientou em sua visita a cidade de Marcelino Vieira essses dias?


Pe. Claudênis: O Senhor Bispo em visita à Marcelino Vieira expressou sua preocupação quanto ao meu envolvimento nesse processo político e me afastou temporariamente para que eu pudesse refletir sobre a minha postura enquanto sacerdote.

Círculo de Fogo: Existem boatos de que foi entregue ao Bispo um documento contendo áudio e outros arquivos que “incriminam” o senhor, o que o senhor tem a dizer sobre isso?

Pe. Claudênis: Não sei informar sobre isso. Se realmente existem e estão na mão do Bispo, que ele avalie e defina minha situação. Estou pronto para acatar as decisões da Diocese.

Círculo de fogo: Agora com o fim das eleições o que você pode falar  para seus adversários que o senhor  intitulavam de “ meia-dúzia, que brincam de ser prefeito”?

Pe. Claudênis: Só reafirmo o que disse:”Meia dúzia” de pessoas que pensam ser os donos da cidade.Por que meia dúzia?A democracia se consolida e avança todos os dias.As pessoas acordam para a liberdade de expressão, fiscalizando, denunciando, participando da gestão.Elas hoje querem ser protagonistas dessa história.Quando elas escolhem seus representantes, ficam atentas para que eles não comentam erros.Diante desse quadro de mudanças, não há mesmo que permanecer mais que meia dúzia pensando diferente e agindo diferente, abraçados àquela velha história de currais, de berço e de tradiçoes familiares.As capitanias hereditárias há muito já ruíram e os sem teto e sem terra hoje tomam as ruas, invadem, sabem dos seus direitos, querem justiça.Quem quer tornar-se liderança terá que acompanhar essa evolução, esquecer sobrenomes”nobres”, nas cer e crescer no meio da comunidade, aprender junto sobre compromisso,respeito e honestidade.A sociedade não mais permitirá que brinquem com os destinos do povo.

Círculo de Fogo: O senhor se arrepende de ter declarado publicamente apoio a oposição e de se envolver na política vieirense?

Pe. Claudênis: Nem por um instante me arrependo da postura que assumo. Não me arrependo de ter lutado para que os vieierenses pudessem ter serviços de qualidade e uma cidade melhor para todos. Sempre serei defensor ferrenho da justiça e da verdade, mesmo que isso me faça pagar altos preços.Estou tranquilo com minha consciência.Acredito nos meus princípios e nos meus valores, como sacerdote e como cidadão.



O blog Círculo de Fogo agradece a sua gentileza de nos atender prontamente. No entanto, para finalizar, fique a vontade no seu discurso e mensagem  aos cidadãos vieirense?

    Pe. Claudênis:   Aproveito a oportunidade somente para agradecer o apoio que venho tendo da comunidade de Marcelino Vieira, dos seus filhos ausentes e presentes.Daqueles que lutaram comigo nesse período de turbulência e dele saíram mais fortes e unidos.Sei que eu não ando só.E que juntos continuaremos a lutar por tudo que acreditamos ser o melhor para nossa gente e para nossa cidade.  Estou muito Feliz aqui no Rio de Janeiro com um grande amigo filho desta terra. O empresário Gonzaga imóveis. Agradece o apoio dos filhos ausentes e presentes nesse momento de muita gratidão. Aqui no Rio estou me encontrando com muitas pessoas daí da terra de Marcelino Vieira. Em breve estarei de volta num momento decisivo da minha história para apenas começar a luta... Marcelino Vieira me aguarde! !Agradeço também ao Círculo de Fogo por disponibilizar esse espaço de divulgação. Estou muito feliz!!



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